Páginas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Babilonia do Apocalipse

Caiu! caiu a grande economia...

O liberalismo capitalista globalizado caminha inexoravelmente para o abismo. Os EUA estão numa recessão económica nunca vista depois da II guerra mundial. Aos olhos do mundo querem apresentar-se como os seus donos e seus guardiães, e quanto mais tentam demonstrar a sua supremacia, mais se desmoronam. Assim numa espécie de fuga para a frente semeando o terror um pouco por todo o lado. O gigante com pés de barro está a arrastar na sua queda as economias como a sua, que assentam o seu desenvolvimento no consumismo desenfreado, na especulação financeira que lhes dá um poder económico falacioso pois tal como dizia o filósofo/político Adam Smith, a riqueza das nações está na força do seu trabalho, e nem sequer está na abundância de matérias primas. O que significa que a riqueza é a cultura, a educação, a civilidade, a dedicação séria ao trabalho e a repartição equa da riqueza produzida traduzida em bens necessários à vida. As economias europeias estão em desagregação. Se não nos convencesse o exemplo da nossa, temos a Espanha, uma das que mais tem crescido na comunidade europeia, a iniciar uma desaceleração rápida que se calhar vai ser catastrófica não só para eles mas seguramente também para nós, para acentuar ainda mais o descalabro em que vivemos. A França está em ‘estado de sítio’ com a penúria de trabalho; a situação social está explosiva pois os padrões de vida do povo reduziram-se drasticamente e o desemprego na juventude é muito preocupante. A Itália, os inventivos da Europa, com o tecido industrial mais forte em PME’s, está desnorteada. O desalento nas populações, sobretudo na faixa etária com muitos anos de trabalho pela frente até à reforma, é por demais evidente; assim como o desânimo dos empresários que, tal como em Portugal e nos outros membros da EU, vêem as suas empresas a perder mercado e competitividade, assoladas pela concorrência oriental. A Alemanha vale-se do seu estatuto de economia mais forte da região europeia mas também ali a inquietação é grande e o desemprego atinge proporções que provocará seguramente forte agitação social. Não se augura nada de bom para a Europa e o mundo por via do descalabro americano. Os analistas do sistema não contam a verdade às populações. A recessão americana vai acentuar-se até níveis que poderão mesmo ultrapassar aqueles de 1929 com o crash da bolsa de Nova York. As economias ocidentais desenvolveram-se na base da especulação financeira prolongada tendo nas Bolsas de Valores os centros de especulação por excelência; uma espécie de roleta onde só ganham alguns que são os que nada produzem. Mas o sistema vai funcionando por alguns anos ao estilo “dona branca”, mas não é eterno porque os hábitos dum capitalismo parasita tendem a degenerar os sistemas produtivos industriais dos seus países levando a produção para outras paragens onde a mão-de-obra é mais barata e portanto lhes rende maiores dividendos degradando lentamente as condições de vida nos seus próprios países porque escasseia o trabalho bem remunerado para todos. A situação mundial quanto à proliferação de conflitos bélicos não é mais do que um indicador de que os países mais agressivos, e onde o poder económico domina completamente o poder político, estão em sérias dificuldades para manterem de pé a sua economia e os conflitos são criados artificialmente, para roubarem e dominarem os países com grandes recursos nos seus territórios. Tudo é feito para manterem em funcionamento o seu complexo industrial/militar, sem o qual as suas economias não subsistem. Daí a razão porque se fazem guerras hediondas e se perpetram genocídios sem que as consciências adormecidas acordem e se revoltem contra tamanhos crimes. Neste conturbado mundo ameaçado pela destruição levada a efeito pela mão do homem, vão proliferando os especuladores insaciáveis, cuja ganância os cega ao ponto de não se aperceberem que o proveito que vão tirando deste fogo em que ardem as esperanças da humanidade, são achas para essa fogueira em que todos arderão, inclusive eles próprios. Não se julguem imortais os senhores do mundo. A catástrofe que podem vir a desencadear também os arrastará para o fim. Não restará ser vivo sobre a Terra se a loucura dos homens prevalecer sobre o bom-senso.

Novo Mundo

Se não podemos conquistar as glórias inebriantes da guerra, devemos ganhar as vitórias e a felicidade da paz. E ganhar essas vitorias é construir porfiadamente, conscientemente a felicidade na paz é tarefa bem mais difícil, mas tambem mais meritória, do que conquistar os louros da guerra.
Como havemos de consegui-lo?
- Eu só vejo um caminho: a educação. todos os outros problemas estão relacionados e, em grande parte, dependentes do problema educativo.

Educar...

Educação é uma palavra que é necessario rehabilitá-lo, porque o futuro há de pertencer aos povos mais educados.
Só a educação fecunda os sonhos de gloria, abre caminho às realizações audaciosas, torna possíveis as reformas profundas e permite uma adaptação proveitosa às novas formas de viver. Sem educação não havera reforma social que vingue! Debalde se renovarão as leis, se não se modificarem os costumes.
Os individuos educados dominam a vida, modificam-na, aperfeiçoam-na. Os que desprezam a educação deixam-se viver... ate que chega a ocasião de morrerem.
Já Kant escreveu: "Só pela educação o homem pode vir a ser um homem. Ele sera o que a educação dele fizer".
A educação aproximara os homens. O progresso material ameaça a segurança da sociedade pela má utilização que dele se faz: a educação dará ao homem a justa medida das suas possibilidades e a verdadeira noção dos seus direitos e deveres.
A educação é a última ratio do equilibrio social.
Educar!...
Mas o que é que se deve entender hoje por educar?
Educar é formar homens. É transferir às gerações novas o patrimonio acumulado à custa do labor esforçado das gerações passadas: patrimonio intelectual, moral, artistico e tecnológico.
Educar é desenvolver a personalidade do indivíduo de modo que se lhe faculte a realização das suas potencialidades, a expansão das aptidões que possue um germe.
Educar é cuidar do desenvolvimento da pessoa, cultivando-lhe os bons instintos e propórcionando-lhe um derivativo para os maus.
Educar é formar hábitos úteis e positivos com a natureza e fins do homem.
Educar é cultivar o esforço e formar a vontade.
Educar é desenvolver na pessoa a capacidade de compreensão, domínio e apreciação da vida.
Educar é abrir ao homem o caminho da perfeição e amparar-lhe os primeiros passos na senda difícil; é ajudá-lo a libertar-se das grilhetas que o prendem à miséria da sua condição.
Educar é fazer do homem lobo, de Hobbes, a pessoa humana sagrada de Cristo.
Educar é assegurar o aperfeiçoamento social, e disciplinar a actividade humana, é melhor a vida e torná-la digna de ser vivida.
Mas educar é terefa muito complexa!
A obra educativa tem algo de arte, muito de ciencia e muito de filosofia. De arte, enquanto pratica um método; de ciencia, enquanto se preocupa com o ser a educar; e de filosofía, quando olha ao ideal, ao fim da educação.
Educar - obra necessária.
Educar - empresa difícil.
Educar - tarefa mal compreendida.
Pais, professores, chefes! Eis a nossa principal missão: educar.
Se não cumprirdes traireis a vossa função humana.

Do livro "O GRANDE PROBLEMA, Estudos Sobre Educação", de Jose F. Rodrigues, 1943 Lisboa.